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Como elaborar notícias sobre suicídio

Encontre aqui orientações para a elaboração de notícias sobre suicídio.

Os media têm um importante papel social na manutenção e promoção de saúde mental, pois são uma fonte de informação para a população. Têm responsabilidade na disseminação correta de informação e na consciencialização da comunidade para a problemática do suicídio e da saúde mental ao longo do tempo. 

A discussão destes temas no espaço público contribui para o aumento da informação e literacia em saúde mental, exigindo o desenvolvimento de políticas públicas de saúde que respondam a estas necessidades. Ao invés, os media podem dificultar as estratégias de prevenção de suicídio. O aumento da visibilidade do suicídio e a sua representação como solução para os problemas, podem ter o efeito de aumentar o risco de repetição e imitação de comportamentos suicidários.

Em 2008 a Organização Mundial de Saúde criou um manual de apoio com orientações para a elaboração de notícias sobre suicídio (atualizado em 2017) em que estabelece orientações que auxiliam o jornalista na construção da sua peça jornalística sobre suicídio, de acordo com a evidência científica, e de forma a que não sejam prejudiciais para a população. 

Em seguida apresentaremos as principais indicações para a elaboração de um trabalho jornalístico com referência a suicídio.

Orientações para a elaboração de notícias

Na preparação de realização do trabalho jornalístico:

  • É essencial assumir-se uma postura empática em relação à pessoa que está a dar o seu testemunho, quer seja alguém de luto, quer seja alguém que tenha feito uma tentativa de suicídio. Estas pessoas estão num lugar de maior vulnerabilidade e fragilidade emocional. 
  • É também preciso ter em conta que durante a sua investigação, o jornalista pode ter acesso a informações sobre o suicídio ou sobre o falecido que não são do conhecimento dos familiares ou outras pessoas próximas. É por isso fundamental que o jornalista assegure a autenticidade e a pertinência do que é exposto.

O que deve fazer:

  • Educar a população sobre os factos do suicídio e a sua prevenção, sem propagar mitos;
  • Esclarecer que os fatores contribuidores para o suicídio são complexos, multifatoriais e muitas vezes não totalmente compreendidos;
  • Fornecer sempre, de preferência no final da notícia, informação fidedigna e acessível sobre onde procurar ajuda e como o fazer: através de linhas de apoio, centros de saúde, serviços locais de saúde mental – de adultos e da infância e adolescência -, Linha SNS24 ou 112;
  • Providenciar narrativas de pessoas que conseguiram ultrapassar as circunstâncias adversas e os pensamentos suicidários. Isto pode ajudar outros a adotarem estratégias semelhantes;
  • Mostrar sempre empatia e contenção ao entrevistar familiares e amigos;
  • Ter cuidado especial quando são reportados suicídios de celebridades ou pessoas em locais de destaque;
  • Reconhecer que os próprios jornalistas podem ficar afetados quando reportam sobre o suicídio – deve ser assegurada a discussão aberta e o apoio entre pares;
  • Tratar o suicídio como uma questão de saúde pública, não de polícia. Esta mudança de perspetiva no tratamento da notícia pode ajudar a sensibilizar os leitores/ouvintes sobre o assunto;
  • Esclarecer as consequências do ato em si, seja na forma de danos físicos e mentais permanentes (no caso de tentativa não consumada), seja no impacto que provoca na família e amigos;
  • É normal ter dúvidas. É aconselhável esclarecê-las sempre com profissionais de saúde mental.

O que não fazer:

  • Não colocar histórias sobre suicídio em locais de destaque, como capas de jornais, notícias de abertura, e evitar a repetição injustificada destas mesmas histórias. 
    Por exemplo, no caso de jornais, em páginas pares e na parte inferior. Na televisão, a partir do terceiro bloco; o mesmo se aplica a programas de rádio. Evitar coberturas de página(s) inteira(s) ou de longa duração;
    Não descrever o método usado em detalhe;
  • Não fornecer detalhes sobre o local – especialmente em casos de figuras públicas, já que os estudos apontam para uma possível popularização desses espaços (hotspots de suicídio);
  • Não usar fotografias, vídeos ou links que se relacionam com as circunstâncias do suicídio;
  • Não usar títulos sensacionalistas;
  • Não normalizar, glorificar ou romantizar o suicídio;
  • Não apresentar o suicídio como a única alternativa às adversidades;
  • Não atribuir culpas e não identificar culpados;
  • Cuidado ao comparar estatísticas de diferentes países ou dados de diferentes estudos. Pode haver diferenças nas fórmulas com que são calculadas (podendo levar a interpretações erradas) e diferenças no impacto por múltiplas variáveis, como a densidade populacional, etc. Em localidades com menor número de habitantes, poucos casos de suicídio alteram substancialmente a taxa de mortalidade – logo é preciso ter cautela ao reportar. É preferível obter a média durante o período de, pelo menos, três anos.
  • Não dar um tom simplista a uma notícia de suicídio ligando-o a uma única causa.

Cuidados a ter com a linguagem na elaboração de notícias sobre suicídio:

  • Não usar os termos “suicídio bem-sucedido”, “tentativa falhada de suicídio” ou “mal-sucedida” – por implicarem que a morte é o efeito desejado;
  • Não usar o termo “cometeu suicídio” – pela sua possível associação à prática de um crime;
  • Não usar o termo “epidemia/pandemia de suicídio” por não ser correto. Apesar de ter o intuito de dar maior importância ao tema, pode ler como alarmismo desnecessário;
  • Não usar linguagem sensacionalista ou normalizadora sobre o suicídio ou a doença mental (com uso dos termos fora do contexto ex: “suicídio político”), ou que apresenta o suicídio como uma solução construtiva para os problemas;
    Usar os termos “suicídio”, “morte por suicídio” ou “tentativa de suicídio”.

As redes sociais têm a vantagem de ter maior facilidade em alcançar populações em risco através de mensagens direcionadas e mantidas ao longo do tempo. Quando mal utilizadas, as redes sociais podem ser mais um elemento pouco benéfico, na medida em que são também espaço de cyberbullying.

É recomendável que se promova o diálogo com os leitores, respondendo a dúvidas, preocupações ou pedidos de ajuda – em resposta a publicações ou nas caixas de comentários – de forma ponderada, clara e factual.

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